MUSSOLE NJOLELA

Nasci em 1945, na vila do Longonjo, no distrito do Huambo, cuja capital era Nova Lisboa, bastante tempo antes do início da guerra pela independência que mudaria a rota da história do nosso belo país. Ainda criança, aprendi com os meus pais a importância da justiça, principalmente depois de ouvir as histórias dos que tinham sido levados para o «contrato».

Cedo decidi que um dia iria lutar pela implantação de justiça numa futura Angola, ainda sem consciência de como tudo se iria processar.

Ainda miúdo, parti à procura de melhores condições de vida. Fui para Nova Lisboa e consegui trabalhar como empregado doméstico em casa da D. Cecília, no bairro do Caminho de Ferro. Ao mesmo tempo que trabalhava, comecei a estudar e fiz a 3ª classe da escola primária, onde arranjei bons amigos, como Kapingana e Tolossi Kapalinga.

Decidi continuar a estudar. Saí de Nova Lisboa em 1964 e fui para Luanda com a ajuda do Dr. Lopes, um médico amigo dos meus patrões, que elogiava a minha dedicação ao trabalho e o esforço que fazia para aprender. Em Luanda, fiquei a trabalhar em casa do Sr. Almerindo, um branco que morava no bairro da Vila Alice. Este obrigou-me a estudar. Fiz o segundo ano do Ciclo Preparatório na escola comercial de Luanda. Em 1968, em contacto com pessoas de uma célula clandestina (o Marito) e com o sr. Simaria, decidi juntar-me ao movimento de resistência contra o domínio colonial e lutar pela independência do nosso país.

Apanhei uma carreira até Calomboloca e segui por caminhos desconhecidos na companhia do meu fiel companheiro Kalonjanga, que tinha os contactos com a guerrilha. A minha intenção inicial era fugir para o Congo, mas fomos para a zona dos Dembos, onde fomos integrados na guerrilha, na Primeira Região Político-militar. Tivemos de lutar contra o exército português, os flechas e o exército da FNLA. Os anos de guerra foram difíceis e colocaram à prova a minha coragem, determinação e fé na causa que abracei.

Como jovem combatente, vivi momentos de extremo perigo e dor, testemunhando a perda de camaradas e amigos que lutavam ao meu lado. Entretanto, também experimentei a solidariedade e a união do povo no interesse do nosso objectivo: a conquista da liberdade. Aqui conheci diversos camaradas, com especial relevo para os comandantes da guerrilha, como Kiluanji e Bacalov, sem esquecer todos os restantes companheiros da nossa longa jornada, principalmente os que nos deram formação e consciência política. Cada ano que passa, me lembro daquelas matas, o que significa muito para mim. Conheço cada árvore, e cada uma delas tem um significado especial.

Depois de vários anos de luta e sacrifício, regressei a Luanda em 1975. Voltei ao Huambo para visitar a família e ali fiquei, integrado nas Forças Armadas do MPLA. A transição para a vida política depois da guerra não foi fácil, mas mantive-me firme nos meus valores e princípios, trabalhando incansavelmente para reconstruir e desenvolver o nosso país.

Regressei a Luanda, a pé, quando a UNITA e a FNLA tomaram Nova Lisboa. Depois de todos os anos de sacrifício, finalmente alcançámos a independência, em Novembro de 1975. Foi um dia inesquecível! Tive a honra e o privilégio de servir o meu país, lutando pela justiça social, pela educação e pela prosperidade de todo o povo. A minha experiência na guerra pela independência inspirou-me a dedicar a minha vida à construção de um futuro melhor para as futuras gerações.

Em Maio de 1976, regressei a Nova Lisboa, onde me integrei nas estruturas militares e políticas. Tive contactos com a Escola Nicolau Gomes Spencer, que tinha como Director o Tenente Alves. Aqui conheci o camarada Afonso, que gostaria de rever.

Sei que a estrada ainda é muito longa e os desafios são imensos, mas mantenho-me firme na convicção de que, juntos, podemos superar qualquer obstáculo e alcançar os nossos sonhos de uma nação verdadeiramente livre e próspera.

Em Maio de 1977 fui encarcerado pelo MPLA, movimento que servi como tantos outros, e através do qual me sacrifiquei pelo futuro de Angola. Encerrado em masmorras, sem acusação, mas previamente condenado por «fraccionismo». Fui salvo da prisão por um primo, funcionário da Disa, que me aconselhou a desaparecer, pois constava de uma lista para ser liquidado. Fiquei escondido em casa de pessoas muito próximas até 1992. Voltei a ficar fechado durante anos. E sei de um outro camarada que não deu as caras até hoje. O que me fez aguentar foi o compromisso com o povo por quem lutei, a defesa da causa maior do povo angolano: a firmeza na luta pela verdadeira independência de Angola.

Em 1994 regressei a Luanda. Voltei a casar e voltei a estudar. A educação não tem grande qualidade, mas cheguei a entrar na universidade, que abandonei. Em 2002 fui para a Namíbia, onde fui ajudado pelo mais velho Nangonyia. Trabalhei em diversas empresas na zona de Oshakati, principalmente com o Sr. Paulo, um angolano lá estabelecido. Regressei a Luanda em 2010, onde tenho vivido, com saídas frequentes à Namíbia, onde deixei amigos.

Esta publicação é a continuação da luta em que me envolvi pelo povo angolano. Só pretendo que a história se lembre de mim como um patriota e um homem de princípios, que dedicou a sua vida ao bem-estar e à felicidade do seu povo.

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