BRANCA CLARA DAS NEVES

Branca Clara das Neves (1956) nasceu em Luena, no Moxico, uma província de Angola que faz fronteira com a República Democrática do Congo e a República da Zâmbia, teatro das cruentas batalhas da Frente Leste não só durante a guerra de libertação do colonialismo português (1961‑1975), como na guerra civil que lhe sucedeu. Viveu no Luena e em Luanda, onde iniciou também a sua vida profissional como professora primária na Escola da Missão de São Paulo em 1974‑75. Exilou-se em Portugal no início da guerra civil que assolou Angola. Formou-se no Magistério Primário, na Faculdade de Economia da Universidade Técnica de Lisboa e pós-graduou-se em Estudos Africanos na Universidade Lusíada de Lisboa. Exerceu o magistério no ensino primário, na alfabetização de adultos e na universidade. Foi auditora, consultora e liderou projetos e ações de formação em Lisboa, Luanda, Bissau, São Tomé, Maputo e cidade da Praia. Para além da participação em várias antologias, tem duas ficções publicadas: Luena, Luanda, Lisboa. Fala de Maria Benta (2014) 1 ª edição pelas Edições Colibri e 2ª edição (2024) pela Elivulu Editora, e Estamos Aqui – Twina Vava – Nous Voici (2020) pela editora Guerra e Paz. Angola, a terra amada de nascença física e linguística, é presente na escrita cerrada destas duas obras.

Na primeira, a narrativa desdobra-se entre um passado colonial e um presente em Lisboa com curtas estadias em Luanda, onde os temas do exílio e da guerra, do racismo e dos dramas familiares da diáspora, da violência conjugal e dos desafios do quotidiano luandense são atravessados pela personagem feminina central e pelos jovens que ela congrega, num tempo que oscila entre a sua ancestralidade lwena e a década de 1980. A segunda é uma homenagem trilíngue à escultura Mintadi da arte antiga Kongo e à sua cosmogonia, através da visita que uma jovem angustiada faz a um museu, encontrando lá a atmosfera de relação e encantamento que a vai libertar e transportar a um novo estar. A combinatória de texto e ilustração em que se cruzam as vozes da narradora, do escultor e do ascendente mestre, em registos quer de natureza popular, quer de natureza erudita, enfatizam a natureza simbólica deste livro.

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